Medicina Nuclear: Uma Velha Nova Especialidade
No dia 14 de Setembro, foi comemorado no Brasil o dia do médico nuclear, data da fundação da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear em 1961. Este campo da medicina iniciou nos Estados Unidos em 1941, quando ocorreu o primeiro tratamento para hipertireoidismo com Iodo-131¹ . Quatro anos após, em 1945, foi lançada a bomba de Hiroshima fabricada com 72Kg de Urânio-235 e a de Nagasaki com 6,6 Kg de Plutônio239. Apesar de toda a triste e lamentável destruição causada pela radiação, as pesquisas continuaram e, em 1946, tivemos o primeiro paciente a ficar totalmente curado de um adenocarcinoma metastático de Tireóide, utilizando-se Iodo-131² . Este feito foi considerado de muita coragem numa época tão difícil e chegou a ser tema de uma reportagem na revista Time.
Depois das primeiras terapias em medicina nuclear, desenvolveram-se aparelhos para se medir as áreas com maior quantidade de radiação e surgiram então as primeiras imagens feitas com cintigráfos retilíneos em 1954.³ Alguns médicos antigos apelidaram este aparelho de “pica-pau”, pois as fotografias eram feitas pixel a pixel e o barulho lembrava a ave. Durante um período, as opções de métodos de imagem praticamente se restringiam as cintilografias e as radiografias (Tomografia e Ecografia surgiram apenas na década de 70)4 .
A imagem em medicina nuclear é dita fisiológica e não anatômica, por isso também é chamada de imagem “molecular”. O Médico Nuclear precisa compreender física, química, biologia e ainda saber a clínica do paciente; pois os achados podem variar conforme o contexto das doenças, tratamentos e o preparo para o exame. Os radiotraçadores são injetados pela via venosa e mudam conforme a parte do corpo ao qual se deseja estudar. A cintilografia enxerga os órgãos e células conforme o seu metabolismo.
Depois de injetada, a radiação será captada pelas Gama-Câmaras. No caso do músculo cardíaco, poderemos ter áreas com lesões no cateterismo (exame anatômico), mas sem isquemia na cintilografia que é o exame fisiológico que analisa o impacto do estresse (físico ou farmacológico) no miocárdio. O contrário também pode ocorrer: pacientes sem lesões epicárdicas significativas no cateterismo ou tomografia, mas com isquemia por doença da microcirculação.
Atualmente, temos muitos novos métodos promissores em medicina nuclear como o 18FPSMA para avaliação de câncer de próstata e o 18F-FBB para avaliação de Doença de Alzheimer. Ao se analisar tais tecnologias, parece que estamos falando de uma nova área da medicina; mas, quando se observa a riqueza da história da especialidade, dá vontade de dizer que a medicina Nuclear talvez seja uma “velha nova especialidade”.
Dra Miriana Basso Gomes
Médica Nuclear pela SBMN
(Sociedade Brasileira de Medicina de Medicina Nuclear)
1)McCready VR. Radioiodine – the success story of Nuclear Medicine : 75th Anniversary of the first use of Iodine-131 in humans. Eur J Nucl Med Mol Imaging. 2017 Feb;44(2):179-182.
2)Siegel E. The beginnings of radioiodine therapy of metastatic thyroid carcinoma: a memoir of Samuel M. Seidlin, M. D. (1895-1955) and his celebrated patient. Cancer Biother Radiopharm. 1999 Apr;14(2):71- 9.
3)Blahd WH. Ben Cassen and the development of the rectilinear scanner. Semin Nucl Med. 1996 Jul;26(3):165-70.
4)Seynaeve PC, Broos JI. De historiek van de tomografie [The history of tomography]. J Belge Radiol. 1995 Oct;78(5):284-8. Dutch. PMID: